terça-feira, 20 de abril de 2010

Uma ciranda qualquer



Tempo para a festa, tempo para chegar. Tempo que faz do presente futuro e passado. Tempo para curar. Tempo é dinheiro, é música e nome de jornal. Tempo é remédio. Tempo, e logo depois funeral. Tempo de surpresas e paciência. Tempo de castigo e tempo de insistência. Tempo, templo e temporal, não necessariamente nessa ordem. Tempo que não via você! (suspiro). Tempo para te amar e tempo pra te esquecer, para me afogar e depois me perder. Tempo para ir a feira, tempo para o telespectador. Tem polenta, amora e batata. Tem polidor. Tempo para ser tempo. Tempo para despedir da dor. O antes ele não me mostrava, agora vejo que não era amor.

domingo, 18 de abril de 2010

Frases soltas



Era uma quarta-feira qualquer quando um panfleto, trago pelo vento, grudou na minha canela. Peguei, li sem dar muita atenção para as galochas ecológicas que estavam sendo anunciadas. “Não é exatamente o tipo de coisa que se procura às nove e meia da manhã quando se tem uma barriga faminta”, pensei. Mas no momento que achei a lata de lixo, me dei conta do verso da folha. Em linhas tortas as letras de forma me desejavam “bom dia”, daqueles sinceros!
Sempre fui de perder em pensamentos. E não tem nada que prende mais minha atenção do que registros que correm por aí. Eles despertam emoção e me lembram, no meio de um dia corrido, que esse mundo é, sem sombra de dúvida, fascinante. Cartas que atravessam oceanos em garrafas, palavras e imagens em paredes, frases animadoras em notas de dinheiro (sei que é desrespeitoso, mas adoro ver esse tipo de intervenção).
A que me recordo agora, estava escrita em lixeiras, postes e calçadas que contornavam a praça da Liberdade. Numa caligrafia de estética estranha e pintada em preto dizia: “Dê mais amor”, dessa maneira mesmo, sem pontos e de forma insistente, como todo apaixonado gostaria de dizer em alto e bom tom, como todo amor romântico e dramático permitiria.
Penso na história dessas pessoas. O que as levaram a fazer isso? Tento imaginar, baseado em esteriótipos, como elas seriam e me frustro… Mas fico contente por ainda existir quem protesta, quem leva a sério suas declarações, quem pronuncia, mesmo sem assinaturas, seus sentimentos. Minha vontade era de abraçá-las e agradecer. Afinal, aquela quarta-feira sem importância seria mais um dia, sem “bom dia”, se o vento não tivesse me escolhido.

Point de Vue


Quando estou alegre qualquer lugar é Paris.
Mas quando estou triste nem Paris é Paris!
(autor desconhecido)

Depois de passar por debaixo do mar, meu trem diminuiu a velocidade e chegou em Paris! No tom marrom, que envolve quase que por completo a Estação do Norte eu mergulhava e explorava os cenários. Aos poucos descobria um ângulo novo, e a cada três passos uma novidade, um novo sotaque. Quanto mais o tempo passava, mais certeza tinha de que aquela era cidade da Luz, dos detalhes em aço, de flores nas janelas.
Paris poderia ser qualquer uma, se não fosse pelo perfeccionismo de Napoleão. Os pormenores da cidade saltam aos nossos olhos e nos seduz ironicamente com um sorriso escondido em seus prédios e objetos dourados. Ela te convida a dar uma volta, a pedalar em bicicletas e se deixar levar por seus barcos.
Que vontade de sentir aqueles raios de sol fraquinhos na pele, de admirar de longe a Torre. De achar confuso e engraçado o trânsito de alguns pontos da cidade. De sentar e memorizar lugares que mais parecem poesia.
Paris nos fazem percorrer galerias subterrâneas. Com ladrões que não são pegos e sanfoneiros simpáticos no metrô. Que traz no cardápio quebabs, croissants, pouco sal e serifas. Paris de escadas irregulares e jardins desconhecidos. De noites ofertadas por franceses libertinos e gentis. Paris onde muitas coisas começam e outras terminam, cheia de histórias.
Fico feliz por ela não ter queimado em chamas, por deixar que Monalisa continue a sorrir da sua maneira tão particular. Por ainda insistir em pontes, em arte, em linhas de trem. Por nos fazer acreditar que o amor ainda é possível.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Não é uma despedida


Tudo me leva de volta! Me convida a olhar para trás e ter a impressão que as coisas se repetem. A bagunça do meu quarto aos 24 anos é tão similar a aquelas que eu fazia aos dezessete. Pedaços de papéis com pensamentos perdidos, alguns com rasgados, outros que foram abandonados no meio do caminho. Cadarços sujos, recados sem datas, mensagens de despedida que me beijam no final.
Sempre tive gavetas de objetos que nada valem (aparentemente), que frustaria qualquer ladrão, que me criticaria por tê-lo feito perder tempo. Pilhas sem cargas, moedas ignoradas, alfinetes e recibos. À noite, me aqueço e atinjo as mesmas temperaturas que o cobertores antigos me causavam. Continuo a cheirar travesseiros, abraçá-los e lhes contar segredo. E insisto em conversar todas as manhãs com minha consciência, independente do meu humor.
Não deixei de escrever em papéis, como sabe, sempre fui viciado em minha caligrafia. E ainda desejo cartas que me contam sobre dias que já passaram, dias que não voltam mais. Me surpreendo em reler o que costumávamos escrever. Estaria sendo malvado se dissesse que não mudamos. Você cresceu e já corrigiu aqueles erros de português infantis. Sequer somos tão puros como pensávamos.
Mas quando te olho, fico feliz e nostálgico por ainda estar lá! Por ainda rir das piadas que contei mais de uma vez. Foi tão bom descobrir que você continua a caminhar sobre o meio-fio da calçada. Tenho algumas de suas palavras na mente, mas assumo que, por descuido, perdi as fotografias. Tudo me leva de volta, mesmo que não tenha passado tanto tempo assim.

domingo, 11 de abril de 2010

O Pluto e o Platão


Ele sempre foi de entregar paixões. Tudo era proposital porque ora pensava que a vida era muito curta, ora a euforia e ansiedade tomavam conta.

Ele sempre foi de questionar seu comportamento mas nunca obtinha as respostas. Regularmente ia a cinemas em sua própria companhia e achava injusto não dividir um filme tão bom, quanto aquele, com ninguém.

Ele sempre foi de amar platonicamente, de criar personagens. De fazer do seu travesseiro um ser real. Continuava no universo a parte sem desacreditar, que um dia seu pensamento iria, por ventura de qualquer brisa do oeste, se realizar.

Primeiro Paragrafo


Depois de uma noite dançante com olhares desencontrados o céu amanheceu sem nuvens. Manhã de frio agradável, desses que nos convidam a aproveitar um pouco mais a coberta, o travesseiro e os sonhos. Já não via mais o rastro do terno xadrez. Possivelmente ele vagava por outras ruas, tomava outras direções, procurava por outros endereços. Coloria o dia em cores que eu ainda desconheço.