quarta-feira, 15 de julho de 2009

Futebol dentro e fora de campo


A capital mineira amanheceu gritando “zero!”. Os clamores que ainda continuam, ecoam de todos os cantos e passam a ganhar ajuda dos foguetes. A euforia é para a final da Libertadores entre Cruzeiro e Estudiantes que se dará logo mais a noite.
Na verdade a magia do futebol não se dá apenas dentro dos estádios. O esporte intitulado de paixão nacional é tão forte que contagia as ruas.
É fácil identificar dia de jogo. Em terra, os torcedores vestem camisas que estampam cores e brasões orgulhosamente. No ar, as bandeiras são hasteadas e penduradas nas janelas dos prédios. Em locais onde há grande concentração de prédios é possível ouvir diálogos entre torcedores. Alguns comemoram e aproveitam para provocar o adversário. Nesse trocadilho de palavras surge grito de um lado, xingo de outro e para completar aparece um terceiro expressando irritação por terem lhe tirado o sossego.
O trânsito da capital, caótico como de costume, se torna mais barulhento. As buzinas dos veículos dominam os asfaltos. Alguns experimentam colocar os braços para fora dos automóveis acompanhados das bandeiras a caminho do Mineirão. No trabalho os que não podem vestir as camisas, carregam dentro de sacolas e mochilas para usarem após o expediente.
No bar, em casa, no campo ou na calçada. Sim, existem os que assistem os jogos em pé nas calçadas. Tudo porque os bares ficam lotados. Não raro, os porteiros de alguns condomínios fazem parte do público que acompanha o rolar de bolas no passeio. Para eles a adrenalina vai a mil quando sai o gol ou quando o sindico aparece repentinamente pegando em flagra. No azar de trabalhar em um local onde não há bares por perto, o jeito é se arranjar com um radinho de pilhas.
Pelo futebol as pessoas se socializam. Para fazer parte de uma torcida basta ter simpatia pelo time. O futebol cria esse laço, unem as pessoas em um mesmo local para verem um jogo ou discutirem sobre ele. No trabalho ele garante a festa independente de vitória ou fracasso. No estádio as pessoas se abraçam pulam e grita juntas para motivar os jogadores.
Vale xingar a mãe do juiz e tantos outros motivos que impedem que o time jogue com toda a categoria que ele está acostumado. A etiqueta do futebol permite expressões mais indelicadas. De acordo com o jornalista e escritor Xico Sá o palavrão em alguns casos como futebol é bem vindo, “ele é uma benção no futebol, na literatura, na topada, no desafogo, no pânico, no trânsito de SP. E na cama...”.
O esporte não escapou e se tornou produto do comércio. O uso dos símbolos e das cores dos times não se limita apenas as lojas especializadas, onde se vende camisas, bandeiras, calçados e outros objetos relacionados com o esporte. As massas de tomates foram pioneiras em ilustrar com os escudos dos times seus copos. Idéia que a indústria leiteira copiou e logo vestiu as caixinhas de leite com uniforme para agradar os mais fanáticos.
Nem a nossa linguagem fica de fora. A comunicação também foi influenciada pelas expressões que não constam no dicionário que de pouco a pouco caiu na boca do povo. De acordo com Ermínio Rodrigues, do Departamento de Teoria Lingüística e Literatura do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas da UNESP (Universidade Estadual de São Paulo), nenhum outro grupo de linguagem conseguiu influenciar tanto a cultura brasileira quanto o futebol.
O “futebolês” está presente no cinema, no teatro, nas danças, na literatura e até na poesia. Ao referir o esporte como paixão nacional resgata-se uma idéia de erotismo. “Pela simbologia, se o gol é o orgasmo do futebol, a bola, com certeza, é a mulher desejada pelo jogador. Aliás, o jogador que apresenta bom desempenho em campo é aquele que tem intimidade com a bola, que sabe tocá-la até o gol. Não é à toa que a rede ganhou o apelido carinhoso de véu de noiva”, conta Rodrigues.
Termos como táticas de jogo, estratégias de defesa, adversário, barreira e mandar torpedo, remete à guerra. Apesar do esporte ser mais ameno e saudável não deixa de ser uma disputa. Outro ponto que se destaca é a criatividade das pessoas que extrapolam a imaginação. Que tal frangueiro para mostrar que o goleiro não atua muito bem. E vale provocar o adversário como quando a torcida grita olé para destacar os lances de dribles.
O termo deu zebra apesar de não parecer, saiu do meio futebolístico e hoje é amplamente empregado. Seu criador foi o técnico carioca Gentil Cardoso que utilizava quando algo não saía da forma que havia previsto. “Provavelmente, o técnico foi buscar inspiração no jogo do bicho que utiliza quase todos os animais, menos a zebra", comenta o professor.
Leonardo Affonso de Miranda Pereira, historiador e professor do Departamento de Teoria Literária da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), explica na sua tese defendida em 1998, a razão pela qual o futebol mobiliza tantas pessoas, principalmente os brasileiros.
Segundo Pereira o que move essa paixão é que a mistura elementos como: popularidade, diversão e representação nacional, no caso de Brasil. E bota emoção nessa historia. Para o jogo de hoje a noite, os 64.800 ingressos disponibilizados já estavam esgotados desde o dia 13 de junho.


Fontes: estadao.com.br
literaturaclandestina.blogspot.com
proex.reitoria.unesp.br
universia.com.br

1 milhões de comentários:

Natália Oliveira disse...

Você quer casar comigo? hahahaha Vc vai ganhar o mundo garoto. Não imagina o meu orgulho ao ler esse texto. Isso me lembra a história do menino que saiu de Varzea da Palma e... O texto está brilhante, muito bem escrito (de verdade) e com muita informação, acho que vale ir para o jornal. Tava rindo do futebolês. Fiquei feliz com você conseguiu escrever um texto tão gigante e ao bom assim. Tá vendo como você consegue. Tô muito feliz e muito orgulhosa. Isso só reafirma minha teoria que não tem como vc dar errado na vida. Você consegue tudo, NY que te aguarde. Adorei a idéia do curta. Não tinha pensado nisso, mas tenho outra idéia também, quero te contar depois. Um super beijo. Adorei o texto.